sexta-feira, 6 de março de 2015

Abóbora Assada, a Traição de Capitu (em Dom Casmurro) e...




Olá gente, tive a intenção de trazer, novamente, hoje, a receita de  uma massa de bolo de festa. Porém,  ocorreu-me, que isto podia vir a concretizar a idéia de muitos, de que este é um blog sobre bolos. Por isso mesmo, resolvi adiar um pouco o tal post, já que este blog trata de culinária, gastronomia e entretenimento, e não apenas de bolos, rsrs. Então, estou trazendo mais uma receita de vegetal, esta abóbora caramelizada de forno, que é a minha forma preferida de preparar abóbora. Esta receita não tem segredos, por isso vou dar só um esquema de como eu a faço:

Pegue a quantidade de abóbora que quer preparar, lave-a e enxugue, e corte a abóbora em fatias. Tire as sementes das fatias (tire a casca se desejar; eu tiro). Distribua as fatias numa assadeira untada levemente com azeite de oliva. E verta um pouco do azeite sobre as fatias. Salpique sal marinho, a gosto, sobre a abóbora. E, finalmente, espalhe uma e meia colheres de sopa de açúcar mascavo (ou mel, neste caso, use só uma colher) sobre as fatias. Leve a assadeira ao forno médio (180ºC), até que abóbora fique 'al dente'.

atualização (porque perguntaram-me): uso abóbora cabotiá (cabotchan)


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Mas, não percam os próximos posts, pois em breve publicarei a receita do bolo amanteigado e esponjoso, com que se faz o victoria sandwich cake, que eu usei para fazer estes mini bolos de casamento:



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 Dom Casmurro e a traição de Capitu






Você, que me lê, qual é a sua tese, Capitu, a personagem do livro Dom Casmurro (e também a principal personagem feminina da literatura brasileira), traiu ou não traiu o marido, Bentinho?



Eu vou na contramão do estabelecido, dos que ficam na dúvida, para mim ela traiu sim!

Peça que qualquer pessoa medianamente inteligente, que desconheça a controvérsia gerada pela estória, leia este livro. E depois pergunte a ela do que ele trata. Aposto que ela dirá que a estória gira em torno dos ciúmes e dos  acontecimentos decorrentes da constatação de Bentinho (eu disse ‘constatação’ e não ‘desconfiança’) de que Ezequiel, “seu” filho com Capitu, na verdade era filho de Escobar, o amigo que ele conheceu no seminário. 

O resumo do livro é o seguinte: Capitu, moça pobre, inteligente e ... vamos lá, manipuladora, casa-se com o vizinho mais abastado e ingênuo, o tal Bentinho. Os dois se conhecem na infância e, já na meninice, ela demonstra o seu alto grau de sagacidade (sagacidade: agudeza de espírito ou facilidade de compreensão; capacidade de ser ardilosa ou manhosa). Por ser tão sagaz, Capitu consegue também dissimular perfeitamente os próprios sentimentos, e sair serenamente de qualquer situação constrangedora.  

Depois de manobrar perfeitamente a situação entre ela e o garoto, e também entre ela e a família dele, que esperava que o rapaz se fizesse padre, para cumprir uma promessa feita pela mãe dele, Capitu consegue que o casamento dos dois se realize. Até chegar a tanto, ela passa anos conduzindo a situação para isso. E de um modo tão calculado, que ninguém sequer percebeu o que estava acontecendo.

Uma vez casada, ela demora muito a engravidar, coisa que pode até levar a gente a imaginar – depois de tudo - que Bentinho talvez fosse infértil. Enquanto Capitu e Bentinho tentam, em vão, trazer ao mundo o filho deles, Escobar, o amigo de Bentinho, que acabou por casar-se com uma amiga de Capitu (Sancha), logo tem uma filha, que é batizada com o nome de ‘Capitu’ (Capitolina, na verdade), em homenagem à amizade que une os dois casais.

Então, de repente, Capitu também engravida. O filho dela recebe o nome de Ezequiel (primeiro nome de Escobar, em retribuição à homenagem anteriormente feita à mãe do menino). A criança nasce, e faz a alegria de Bentinho e Capitu. Pouco tempo depois, Escobar morre, num acidente no mar. No velório dele, Capitu é flagrada, pelo marido, olhando o defunto de forma apaixonada. Este não é o único acontecimento comprometedor havido entre o morto e Capitu, tomamos conhecimento de vários, ao longo da estória.

O tempo passa, Ezequiel vai crescendo e, segundo as próprias palavras de Bentinho, é como se Escobar ressurgisse do túmulo, tal a semelhança física entre a criança e o falecido. Aquilo vai envenenando o espírito de Bentinho, pois ele vai reconhecendo o amigo morto, em tudo que diz respeito à aparência e modos do menino. Bentinho começa a ter ojeriza pela pobre criança, a tal ponto, que pensa em cometer o suicídio. Mas pensa também em matar o menino, a quem chega a dizer que não é o pai.

Por fim, depois de alguns anos nesse terror, ele compra casa na Europa e instala nela Capitu e o filho, pois não suportava mais conviver com os dois (e, nesta época, os casais  “de bem” não “divorciavam-se”). Ele volta para o Rio de Janeiro e vai tornando-se cada vez mais isolado e sem alegria (casmurro). Passam-se os anos, sem que Bentinho visite a família, na Europa, sequer uma vez. Capitu acaba morrendo por lá e Ezequiel vem visitar o “pai”, na esperança de reatar as relações com o mesmo. Mas, de novo, é rejeitado. O rapaz parte, então, lá para bandas do Oriente, a fim de fazer uns estudos arqueológicos. E logo morre também por lá, vítima do Tifo. Ponto final.


Mas, se a estória foi entendida, durante anos, como uma tragédia, que  decorre de adultério, por que agora existe esta dúvida? Simplesmente porque os estrangeiros, a começar pela professora norte-americana, Helen Caldwell, que foi a primeira a inverter a leitura do romance, nos anos 50, e também outros, como o professor britânico, John Gledson (mais recentemente), o entenderam como uma estória de ciúmes e de dúvida. E de ciúmes tão terríveis, que causaram os desvarios de Bentinho, e todas as consequências conhecidas. Para eles, bem como para um monte de outras pessoas, incluindo aí os elaboradores das provas dos vestibulares, Capitu não traiu Bentinho, este é que era doido.
Claro que eles não tiraram isso do nada, o romance é realmente cheio de passagens que podem induzir o leitor ao equívoco. Uma delas é a citação do verso do livro de Eclesiástico: 
“Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te, com a malícia que aprender de ti." – Eclesiástico 9:1

Eu li o Dom Casmurro duas vezes e, em outubro do ano passado, li este Quem é Capitu (de Alberto Schprejer), que é uma coletânea de textos de intelectuais de várias profissões, sobre a personagem. A maioria deles acha que Capitu não traiu Bentinho. 
Eu continuo achando que traiu. Se você ainda não leu o livro, leia-o também e depois me diga qual é a sua opinião! 






19 comentários:

Laura Lucia disse...

Oi, Marly,
Gostei da receita de abóbora pela praticidade e rapidez. Deve ficar saborosa também.

--Quanto à traição ou não da Capitu, vejo a dúvida como uma técnica literária do Machado de Assis, cujo objetivo seria deixar aos seus leitores o julgamento e a polêmica gerada pelos pontos de vista diferentes. Algo novo e inusitado para a época, e que ele jamais sonharia que continuasse a empolgar e render livros sobre o assunto mais de um século depois...

Beijo fraterno, e um um final de semana de muito amor e alegria

Pedrita disse...

parece uma delícia. beijos, pedrita

Coisas de Tássia disse...

Olha, eu tbm achoque não traiu, rsrsrs, eu li uma vez só, e acho que poderia ser coisa da cabeça de Bentinho, kkk. Acho genia esta tacada de Machado de Assis, imagina até hoje estamos discutindo se traiu ou não!
Quanto a abóbora deve ficar uma delicia.

Bom final de semana

tatiane disse...

Também prefiro sempre cozer a abóbora no forno, adoro esse adocicado que fica!
Sobre a Capitu, eu li há tanto tempo, acho que uns vinte anos! Já não me lembrava muito da história, e seu post me ajudou bastante. Vou reler o livro, mas lembro que na época achei que a Capitu traiu, com seus "olhos de cigana oblíqua e dissimulada", só essa frase que eu lembro!
beijos e bom final de semana

Lucinha disse...

Marly,

Gostei muito da sugestão para o preparo da abóbora. Achei fácil, e vou experimentar.

Em alguns pontos da estória, acho que traiu, outras, não. Machado de Assis, acabou deixando um dúvida entre os leitores,e acho que nunca vai se chegar a um denominador comum. rs

Um lindo final de semana! Beijos

Jussara Silva disse...

Oi Marly.
Tudo bem? Gostei dessa forma de preparar abóbora.
Quanto ao livro. li há muitos anos atrás e achei que traiu. Vou tentar reler.
Bom final de semana! Bjão.

Jussara Silva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Prata da casa disse...

Querida Marly: adoro abóbora assada e nunca tinha feito deste modo ( sem a casca). Hei de experimentar para a próxima.
Quanto ao livro é com alguma vergonha que confesso que nunca li.
Bjn
Márcia

Andréa Santana disse...

Boa tarde querida Marli!
Eu amo abóbora, vou fazer a sua receita, fiquei com água na boca. A foto ficou tentadora!
Seus bolos estão lindos, cada receita pra mim é única!
Eu tenho o livro Dom Casmurro, li há muito tempo,as folhas estão amareladas,rsrs.

Feliz Dia da Mulher!
Bjs no seu ♥

Liliane de Paula disse...

Pois é Marly. Passei um bom período, na Academia e lá no Hospital, perguntando a opini~]ao das pessoas.
Incrível, descobrir que poucas pessoas conhecem o livro de Machado de Assis.
E os poucos que opinaram, foi meio a meio.
Minha opinião é que não traiu.
A verdade, só Machado de Assis, esclarecendo.

Faço abóbora assada, assim, tb.
Mas uso oleo de Soja e não ponho mel.

Arione Torres disse...

Oi querida amiga, desculpe por não ter vindo ontem. Ando muito ocupada esses dias...
Lhe desejo um feliz dia da mulher (mesmo que atrasado)
Beijos e fique com Deus!!
ps: Também acho que a Capitu traiu o Bentinho!!!

Josy disse...

Querida Marlyca, adoro abóbora assada, nunca fiz com açúcar mascavo, deve ficar melhor ainda. A cor da sua está linda.
Quanto a Capitu concordo com vc, ela não traiu. Bentinho que ficou procurando pelo em ovo com sua imaginação fértil e deturpada, enxergando só o que ele queria enxergar a ponto de achar que o filho não era dele e sim do amigo, e pior, a ponto de planejar matar Capitu e o filho. Independente disso amo essa obra. Beijinhos amiga, ótima semana

Josy disse...

Ah esqueci de mencionar os bolos ficaram um encanto como tudo o que vc faz amiga. Beijinhos

Zizi Santos disse...

Oi Marly
essa abobora assada fica realmente uma delícia! eu não gosto de descascar, acho dura! mas descasco pois fica mais macia e fácil de digerir.
Muito interessante você trazer essa literatura desse querido escritor!
Por que Capitu iria lançar olhares apaixonados sobre o falecido ? Eu acho que ela traiu sim. E também acho que além de estéril , o Bentinho era impotente, apaixonado pelo Escobar. Pirei? Fui além da conta? Imaginação fértil? Pois é, eu penso assim. Desde a juventude , quando li o livro,é que tenho essas conclusões. O escritor nos deixou as duvidas . Escrevia tão sutilmente que também penso que ele escrevia de forma oculta sobre as situações culturais dos continentes.
bjo

Luma Rosa disse...

Oi, Marly!
Eu amo abóbora assada, só que faço de outro modo, pois tenho muita preguiça de descascar quando a abóbora tem casca dura e também por ser a casca cheia de fibras. Eu simplesmente corto ao meio, unto uma forma e coloco a abóbora com a parte cortada encostada na forma. É criado um vapor que a cozinha. A casca fica molinha. Daí tiro as sementes e finalizo a receita. Acho que daqui pra frente posso fazer do seu modo :)
Não acredito que Capitu era uma traidora e acredito que o ciúmes provoca toda a questão das fantasias, até mesmo pensar que Ezequiel seja um bastardo. Não reli o livro, mas quem sabe com um outro olhar eu veja alguma coisa que comprometa Capitu?
Por certo, a traição dá mais ibope e com dúvidas no ar, o quebra-cabeças gera muita curiosidade!
Beijus,

Rosa Paula I Le Paquet disse...

Oi, Marly! Que saudade de passear por aqui! E logo que cheguei já me lembrei porque sinto falta: abóbora assada + Machado de Assis só você pode oferecer!
Amo abóbora assada! Amo!
Quanto ao livro, sempre acreditei na inocência de Capitu. Já meu marido, que deu aulas de literatura, fala que é óbvio que ela é culpada!
Tenha uma ótima semana!
Rosa
Le Paquet

Arione Torres disse...

Oi querida amiga, vim lhe desejar uma excelente semana, beijos e fique com Deus!!

Milia disse...

Con esas foatos de pasteles de boda, es díficil pensar que tu blog no es de dulces, es cierto que tu cocinas como los angeles cualquier plato amiga Marly, pero los dulces... los bordas!
Un beso grande

Jussara Neves Rezende disse...

Marly,
quando li o romance pela primeira vez tive certeza: Capitu traiu, sim.
Na segunda já não fui tão enfática...
Ocorre que a narrativa é feita em 1a. pessoa e esta é parte interessadíssima na história... e não tem certeza! Acha que sim, que foi traído, mas, simultaneamente encontra provas da inocência de Capitu ao perceber o qto a esposa se parece com a mulher retratada num quadro visto na casa dos amigos... e que nem era parente dela! É como se Bentinho quisesse que o leitor avaliasse com eles as pistas e partilhasse a sua própria inquietação.
Assim, embora lá no fundo eu pense que a Capitu realmente traiu Bentinho (são muito mais numerosas as pistas neste sentido), penso que tal polêmica não se resolve nunca pois Dom Casmurro não trata realmente de uma história de traição, mas de uma dúvida.
Quanto à receita... vou fazer ainda esta semana. Adorei!
Abraço!

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